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Kayzer, o Artilheiro que Sobreviveu ao Ano em que o Vitória Não Morreu

Kayzer avalia primeiro ano no Vitória, pede 2026 mais tranquilo e coloca o Brasileiro como prioridade

Entre gols, jejuns e um campeonato jogado à beira do abismo, o atacante viveu a temporada como quem atravessa a rua olhando para os dois lados — e sobrevive.

Por F. M. Ravenscroft — Salvador, 19 de dezembro de 2025

Renato kaiser avalia primeiro ano no Vitória

Renato Kayzer não jogou apenas futebol em 2025. Jogou contra o destino, contra o rebaixamento e contra o silêncio constrangedor que ronda os clubes quando a tabela vira ameaça. No Vitória, vestiu a camisa como quem veste uma cruz: pesada, histórica e impossível de ignorar.

Começou como herói instantâneo — três gols em dois jogos — desses que fazem o torcedor jurar amor eterno antes mesmo do segundo encontro. Depois, veio o jejum, esse personagem cruel que o futebol inventou para lembrar aos artilheiros que eles também sangram. Kayzer caiu, levantou, sentou no banco, voltou. E ficou.

O Campeonato Brasileiro não foi uma competição; foi um interrogatório. Cada rodada perguntava ao Vitória se ele merecia continuar existindo na Série A. E Kayzer, com 12 gols na conta — nove deles pelo Leão —, respondeu do jeito que sabia: com a bola entrando, ainda que tarde, ainda que suada.

“Disputar rebaixamento é colocar tudo em risco”, confessou o atacante, com a lucidez de quem já esteve numa final continental e sabe diferenciar a tensão da glória do medo da queda. Segundo ele, havia mais que pontos em jogo: empregos, famílias, histórias inteiras dependiam daqueles 90 minutos finais.

E o Vitória resistiu. Nos últimos dez jogos, teve a sexta melhor campanha do campeonato. Uma arrancada tardia, quase indecente, como um personagem do poeta louco que só resolve ser honesto no último ato. Mas resolveu. E ficou.

Para 2026, Kayzer pede menos drama e mais previsibilidade — um pedido ousado num clube que historicamente prefere a emoção ao tédio. Sem a Sul-Americana, com calendário mais curto, o atacante defende que o Brasileiro seja tratado como altar principal. O resto, diz ele, é consequência.

Sob Jair Ventura, técnico elogiado pela comunicação e pela capacidade de organizar o caos, Kayzer alternou titularidade, conviveu com a concorrência e aceitou o jogo como ele é: injusto, humano e imperfeito. “Somos seres humanos”, disse, numa frase que, dita no futebol, soa quase revolucionária.

Fora de campo, Salvador ainda é promessa. O show de Léo Santana foi cancelado pela chuva, mas a amizade ficou — dessas histórias paralelas que só o futebol proporciona, misturando artilheiros e cantores no mesmo condomínio e no mesmo destino.

Kayzer se reapresenta em janeiro de 2026 com um desejo simples e profundamente ambicioso: um ano tranquilo. No Vitória, sabe-se, isso é quase literatura fantástica. Mas o futebol, como a vida, às vezes permite milagres discretos.


Fonte: Entrevista concedida ao ge e ao Globo Esporte BA. Dados do Campeonato Brasileiro Série A 2025.

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