Projeto da nova arena rubro-negra exibe não apenas modernidade, mas uma epifania que beira o sobrenatural
A noite de 24 de novembro não foi apenas luminosa: foi apoteótica. Houve instantes em que parecia que o Barradão, lá nas sombras da Toca, respirava — como se pressentisse sua própria ressurreição. O Vitória revelou ao mundo seu projeto de arena, e a plateia, tomada por dirigentes, conselheiros e torcedores, não assistiu a uma apresentação técnica, mas a um verdadeiro ato litúrgico.
O consórcio responsável — SD Plan e Grupo AR — descreveu cada detalhe com a solenidade daqueles que anunciam uma profecia. E todos ouviram enfeitiçados. A ampliação para 40.597 lugares, os 116 camarotes, as áreas de convivência, terraços, bares e uma arquitetura que promete não apenas modernidade, mas quase uma sedução.
A arena que quer devorar o futuro
O poeta louco diria que o Barradão antigo, tão maltratado pelo destino, agora ganha uma alma nova — e não uma alma qualquer, mas dessas que ardem. A Arena Barradão não quer apenas ser estádio: quer ser palco, catedral, barricada e vitrine.
Os arquitetos falavam, mas o que se ouvia era uma ópera. A cada slide surgia uma promessa maior que a anterior. Bares reluzentes, espaços panorâmicos, um rooftop digno dos grandes teatros do mundo, sistemas de segurança, Wi-Fi onipresente e uma engenharia pensada para parir um gigante de concreto.
A previsão de R$ 20 milhões anuais em receitas parecia pequeno detalhe diante da grandeza moral da obra — porque, para o torcedor, lucro não se mede em cifras, mas em lágrimas, vitórias e noites épicas.
O tempo como vilão e salvador
Há prazos, claro. Fala-se em 36 meses para entregar o colosso. Mas prazo, no futebol, é inimigo íntimo. O tempo é uma besta selvagem, e que apenas os obstinados conseguem domá-lo.
O Vitória, porém, acredita — e a crença move montanhas, tijolos e torcedores. A diretoria planeja aprovações ainda este ano, início das obras em 2026 e conclusão em 2029. Uma eternidade para o impaciente, um suspiro para o apaixonado.
E se o clube precisar jogar fora de casa por algum período, que seja. A fé rubro-negra sempre foi capaz de suportar provações maiores.
Um barril de pólvora emocional
Toda obra grandiosa divide almas: uns se encantam, outros temem. Alguns torcedores enxergam no projeto um renascimento; outros, com o ceticismo dos traumatizados, veem riscos, prazos incertos, cifras que parecem ouvir ecos.
Mas o Vitória — este personagem trágico e glorioso, tão apaixonado por seus próprios abismos — decide apostar. Em cada camarote, cada cadeira nova, cada vitrine de vidro, há a esperança de um futuro que finalmente faça justiça ao clube.
Ao fim da apresentação, havia no ar algo indescritível. Não era só otimismo. Era como se o Barradão — o velho, o sofrido, o amado — tivesse cochichado ao ouvido da torcida:
“Eu voltarei maior. Voltarei eterno.”



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