A BOLA, O DÉBITO E A HONRA: UM TRIÂNGULO ENTRE BOTAFOGO, GRÊMIO E VITÓRIA

Clubes costuram acordo de cavalheiros — ou de sobreviventes — para quitar dívidas que se cruzam como destinos de novela

Salvador, 10 de novembro de 2025 — O futebol brasileiro, que já foi paixão, agora é também contabilidade. ⚖️

No lugar dos dribles, os clubes driblam boletos; em vez de gols, fazem planilhas.

E é nesse cenário tragicômico que Botafogo, Grêmio e Vitória sentam à mesma mesa — não para discutir táticas, mas para aparar as arestas de um romance financeiro que ameaça virar escândalo.

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Tudo começou com Lucas Halter, zagueiro de alma firme e contrato frouxo, emprestado ao Vitória. Bastou ele pisar no gramado do Barradão, no empate sem gols diante do Botafogo, para acender o pavio da discórdia. O clube carioca, de terno e calculadora na mão, cobrou R$ 1 milhão pela ousadia baiana.

Mas a querela virou algo maior — um acordo tríplice, costurado à sombra da CBF, onde Thairo Arruda (Botafogo), Fábio Mota (Vitória) e Alberto Guerra (Grêmio) buscaram redenção em números e carimbos.

O que se viu foi uma espécie de novela contábil, em três capítulos e um só desfecho: ninguém deve, ninguém paga, e todos fingem que se amam.

🔴 Vitória x Botafogo: o clube baiano deve R$ 2,2 milhões — metade pelo repasse de Janderson ao Göztepe, da Turquia, e outra parte pela escalação de Halter sem o “dízimo” de um milhão.

⚫ Botafogo x Grêmio: há parcelas pendentes pela compra de Nathan Fernandes, jovem de futuro caro e presente incerto.

🔵 Grêmio x Vitória: o tricolor gaúcho ainda deve pela contratação de Wagner Leonardo, zagueiro que defende, mas não defende as contas do clube.

Cada dívida, uma ferida.

Cada contrato, um capítulo de uma epopeia contábil que só o futebol brasileiro seria capaz de escrever com tamanha ironia.

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Na reunião desta segunda-feira, entre um café e outro, discutiu-se mais do que dinheiro — falou-se de honra, de imagem e de evitar manchetes.

Os dirigentes saíram de lá como quem sai de uma missa: absolvidos, porém sem certeza da salvação.

Agora, os departamentos financeiros calculam o saldo final, prometendo que as diferenças serão ajustadas num acordo comum, onde o perdão é o último recurso da contabilidade.

Em outras palavras, cada clube pagará o que puder — e o resto será varrido para debaixo do tapete da Série A.

🗣️ A palavra dos homens e o silêncio da bola

Thairo Arruda, o executivo botafoguense, falou em “descumprimento contratual”.

Fábio Mota, do Vitória, respondeu com diplomacia e baianidade: “Estamos costurando o acordo”.

E o Grêmio, pragmático, observou como quem segura o novelo da trama.

Enquanto isso, os torcedores, alheios à álgebra dos bastidores, ainda se perguntam: em que momento o futebol virou uma agência bancária?

💼 Os valores do jogo fora de campo

Lucas Halter será adquirido pelo Vitória na próxima temporada por US$ 1,3 milhão (R$ 6,9 milhões);

Nathan Fernandes custou ao Botafogo até US$ 10 milhões (R$ 57,3 milhões à época);

Wagner Leonardo foi comprado pelo Grêmio por US$ 4,5 milhões (R$ 26 milhões).

Entre cifrões e promessas, o que resta é a velha máxima:

“No futebol, como na vida, todos devem a alguém — e o milagre é continuar jogando.”